O autor optou por criticar sutilmente a modernidade, em sua poesia representada pela luz, pela velocidade, e falar sobre o escuro, esta condição tão primeira da essência humana, mas que, ou por medo, ou, por esquiva muitos optam por ignorar. Esta metáfora da escuridão, transformada em algumas passagens na figura dos vultos, são representações da condição humana repleta de aflições, mas ao mesmo tempo são um mecanismo de aprofundamento na alma, pois é na singularidade do estado emocional de cada ser humano que é possível reconhecer a unicidade das coisas que são universais para todas as pessoas. A condição humana é uma instável troca de estados, luz e sombra, noturno e dia, por isto as palavras do poeta são uma rendição a esta natureza ambígua, aceitando a impossibilidade das certezas, e também, o aspecto assombroso das nossas estranhezas, que adormecem mascaradas na nossa personalidade, “ que sou / das entranhas incertas / das minhas certezas / das estranhas artimanhas / da minha estranheza”. De certo modo, o abismo é algo transcendental, ultrapassa as coisas lógicas, pois se pode mudar de cidade, pode-se mudar de amigos, porém o interior do homem e todas as suas questões, não podem ser modificado pelos meios materiais, e principalmente, o abismo é transcendental pois a aceitação das incertezas, das dores e das estranhezas é a verdadeira construção de uma visão poética.