Como mora a parcela da população que não tem acesso aos serviços de um arquiteto ou de um engenheiro? Demis Ian Sbroglia Barreto colocou seu trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo na UFF em prol dessa investigação. Em 2008, ele percorreu o litoral brasileiro de bicicleta, do Chuí (RS) ao Oiapoque (AP), fotografando os diversos exemplos de arquitetura popular encontrados. O resultado dessa pesquisa pode ser conferido no livro A arquitetura popular do Brasil, que a Bom Texto está lançando em julho. Para complementar e dar forma definitiva às anotações de Demis, a editora reuniu dois pesquisadores, os arquitetos Günter Weimer e Werther Holzer, que assinam os textos finais. E o fotógrafo Humberto Medeiros foi contratado para enriquecer o material disponível, produzindo novas imagens. Com a consolidação do processo de industrialização do país na década de 1950, a população urbana ultrapassou a rural. A ausência de uma política habitacional eficiente por parte do Governo Federal e, consequentemente, o déficit habitacional urbano crescente propiciaram à população mais pobre a autoconstrução, com o uso de métodos construtivos empregados nas áreas rurais. No decorrer do processo de metropolização, devido à dificuldade de obtenção dos materiais tradicionais, houve uma mistura entre as técnicas e os materiais tradicionais e as técnicas e os materiais industrializados, como pode ser visto nas fotos tiradas de construções nas periferias das cidades e nas favelas. Para os arquitetos, entretanto, é a moradia rural que mais se aproxima do que seria a arquitetura popular, pois nas zonas rurais o homem fica refém de seu próprio conhecimento e dos materiais disponíveis, conforme pode ser observado nas construções de adobe, de fibras e de taipa registradas por Demis. A obra é dividida em cinco capítulos: - Características regionais -, - Paisagens - , - Tipologias - , - Partes das edificações e Materiais de construção - e visa a preencher uma lacuna editorial sobre o assunto, mas sem cair em hermetismos que espantariam leitores leigos na arte da arquitetura, conforme afirma Günter Weimer no texto de apresentação. Destacam-se no último capítulo a Casa da Flor, em São Pedro da Aldeia (RJ), construída por Gabriel dos Santos, trabalhador das salinas da região, com refugo de obras e materiais encontrados no lixo; e a Casa Arte (foto da capa), em Florianópolis (SC), erguida pelo uruguaio Jaime Machado, que utilizou garrafas de vidro em substituição aos tijolos.