"Envolvente" é, no mínimo, um dos adjetivos que ocorrem a quem se dispõe a ler Entre Orfeu e Xangô, de José Jorge Siqueira. É um juízo que se pauta pelo máximo, em especial quando se tem em conta a aridez das teses acadêmicas. Mais: envolvente e original. O autor desenvolve a hipótese de que o período entre 1944 e 1968 no Brasil foi palco de "intenso movimento de idéias, debates e ações no sentido de repensar-se antigas tradições de estudos, formas de representação e ideologias sociais, relativas ao lugar ocupado pelos preconceitos e discriminações que se abateram sobre o contingente negro/mulato da população brasileira, configuradores da então chamada democracia racial." Para José Jorge, é dessa movimentação cultural complexa que emerge, em níveis diversos (tanto políticos quanto artísticos e acadêmicos), um novo tipo de consciência sobre os impasses étnicos do país, ensejando críticas sérias à mitologia da democracia racial. Trabalhando criticamente, ao mesmo tempo, a produção de conhecimento específico nas esferas teóricas e no campo da luta social, ele expõe o arcabouço do pensamento coletivo em que se corporifica a nova consciência. Muniz Sodré A emergencia de uma nova consciencia sobre a questao do negro, na sociedade brasileira nos anos 40 e 50 do seculo XX, e tema que arrolou intelectuais, instituicoes, projetos, criacoes artisticas e movimentos culturais, capazes de lhe dar dimensao nacional malgrado a relativa escassez da sua vulgarizacao no interior das grandes massas populacionais, especialmente a dos proprios negros e mulatos. E sobre isto que trata o livro de Jose Jorge Siqueira, no qual ele trabalha criticamente a propria producao do conhecimento da tematica, tanto no plano da academia, quanto no movimento socialA emergência de uma nova consciência sobre a questão do negro, na sociedade brasileira nos anos 40 e 50 do século XX, é tema que arrolou intelectuais, instituições, projetos, criações artísticas e movimentos culturais, capazes de lhe dar dimensão nacional – malgrado a relativa escassez da sua vulgarização no interior das grandes massas populacionais, especialmente a dos próprios negros e mulatos. É sobre isto que trata o livro de José Jorge Siqueira, no qual ele trabalha criticamente a própria produção do conhecimento da temática, tanto no plano da academia, quanto no movimento social