Desde o final do século 20 até os dias de hoje o mundo dos negócios foi marcado pelo processo que se convencionou chamar de globalização. O impacto dessa mudança não foi diferente para a indústria de alimentos ou mais especificamente para os produtores de alimentos de origem animal. Sabemos que as mesmas inovações tecnológicas que revolucionaram os meios de comunicação e permitiram a troca praticamente instantânea de informações entre empresas e seus clientes e entre as pessoas do planeta, além da evolução dos recursos logísticos afetaram a forma como se realizam negócios e o comportamento dos consumidores. Se, no passado, empresas líderes de mercado acomodavam-se e podiam usufruir a liderança e a força de sua marca, isso não é mais verdade. Atualmente, o concorrente muitas vezes é desconhecido, pois as empresas estão agora competindo num mercado global. Até mesmo as empresas que ainda não exportam não podem garantir que não serão ameaçadas por empresas de outros países atuando em seu próprio território. Muitos livros de marketing foram escritos, nos últimos anos, na tentativa de apresentar soluções para minimizar essas ameaças. Em geral preconizam a diferenciação. Não acredito que estejam errados aqueles que buscam a diferenciação para poder se destacar num ambiente de tantas ofertas e alternativas, porém, acredito que as verdades fundamentais dos negócios permanecem as mesmas no que se refere aos consumidores. Os consumidores estão mais informados, conscientes e exigentes, mas no que é fundamental querem as mesmas coisas que sempre buscaram. Querem sentir-se encantados, importantes e únicos! Isso vale tanto para a relação de varejo como a relação business-to-business. O que define a qualidade de um produto não são seus atributos, mas a percepção de valor que o consumidor forma desse bem. O valor não é definido apenas pelo preço, mas leva em consideração tudo o que o consumidor almeja de um produto, mesmo aquilo que ele não sabe definir.Um consumidor saberá quando um produto tem qualidade, mesmo que não consiga traduzir essa percepção na forma de uma especificação ou de parâmetros mensuráveis. Este livro é uma ótima ferramenta para a indústria da carne, pois contém os fundamentos da qualidade da carne, que permitirão à indústria tomar as melhores decisões para atender às expectativas dos consumidores finais. Conheço a Professora Dra. Carmen J. Contreras através de trabalhos conjuntos entre nossa empresa e a ESALQ e posso afirmar que o fato dela estar coordenando esse projeto já seria suficiente para eu avalizar o seu conteúdo. Este livro representa um esforço conjunto de profissionais da indústria e de professores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) e da Faculdade Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) ambos, da USP, além do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), instituições que por si só referenciam qualquer publicação. Cada vez mais a indústria brasileira precisará do conhecimento científico das universidades para poder melhorar sua performance e continuar competindo em nível de igualdade, muitas vezes até com superioridade sobre seus competidores internacionais. Por sua vez, as universidades e centros de pesquisa também precisarão alinhar suas prioridades aos interesses econômicos do país e cumprir o seu papel social. Fico feliz ao ver que isso é possível e está acontecendo. O livro Qualidade da Carne mostra claramente que esse alinhamento de interesses e prioridades é possível ao trazer temas tão relevantes e atuais para a indústria. Recomendo a leitura deste livro, seja por estudantes ou por profissionais da indústria de alimentos, sob a ótica do cliente, ou seja, pensando em como cada capítulo poderia ser útil para trazer algum benefício explícito ou implícito ao consumidor final e como esse consumidor poderia sentir-se encantado por um produto que realmente exceda suas expectativas, sem que ele tenha que pagar mais por isso.