A técnica psicanalítica nasce de uma questão independente, surgida da tensão entre o rigor de um saber que se quer universalmente transmissível e a singularidade da experiência clínica. A partir da inflexão clínica da tradicional problemática entre o singular e o universal, a técnica psicanalítica poderia ser descrita através de duas questões paradoxais e, não obstante, necessárias. De um lado, a questão do estilo do analista, pois aquilo que se repete na singularidade como um traço inimitável é, também, marca da sua genialidade ou do seu sintoma. De outro lado, a questão da articulação entre teoria e clínica, pois se cada modelo de psiquismo abre a escuta para diferentes sentidos do discurso, são precisamente os impasses singulares da clínica que constituem seus obstáculos epistemológicos, ou seja, aqueles elementos de resistência à teoria que, segundo Bachelard, exigem alterações na estrutura conceitual de uma consciência. De fato, o xadrez psicanalítico se joga essencialmente com a natureza prontamente alterável de suas regras diante da imprevisibilidade da clínica, assim como com a enigmática maleabilidade psíquica do analista. A partir destas frentes comuns, a discussão da técnica em Psicanálise tem-se desenvolvido acompanhando as mudanças impostas pelas escolas pós-freudianas, configurando-se com um grau de complexibilidade bem maior do que aquele do nobre jogo na base da analogia freudiana. Em tal contexto, é bem-vindo o livro Estilos do xadrez psicanal