Pela primeira vez desde que adquiriram o hábito de jantar todos os meses na casa dos Pardon, Maigret haveria de guardar daquele encontro no Boulevard Voltaire uma lembrança quase penosa. Tudo começou no Boulevard Richard-Lenoir. Sua mulher chamou um táxi por telefone, pois chovia há três dias, como, segundo o rádio, não se via nos últimos 35 anos. Chuva com rajadas de vento, gelada, das que fustigam o rosto e as mãos, colando as roupas molhadas no corpo. Nas escadas, nos elevadores, nos escritórios, os passos deixavam manchas escuras, e o humor das pessoas era execrável.