Toda narrativa é um recorte. O universo daquilo que uma filha poderia narrar sobre o fim da vida de seu pai é um campo de vastas possibilidades do frio distanciamento que, para não ceder ao dramalhão, acaba enxugando as possibilidades de empatia, até a desmedida indulgência na angústia e na autocomiseração. Neste relato, Emmanuelle Lambert escolhe a terceira margem, da qual não estão ausentes o profundo sentimento (do contrário, por que narrar esta história?) nem a quase banal atestação de que, no fim das contas, o chavão nunca deixou de estar correto: acompanhar a morte pode ser, também, nos casos mais afortunados, celebrar quem se vai e quem, ao permanecer, ao ultrapassar seus mortos no tempo, de certo modo lhes confere sobrevida. Ao narrar os últimos cinco dias de seu pai, levado por um câncer, a autora justapõe memórias íntimas e coletivas, que tanto problematizam quanto conferem sentido umas às outras. A aventura da vida de uma família em seu [...]