O livro de Maria João Sousa e Brito "Quem arisca, não petisca: - Uma interpretação psicanalítica da anorexia nervosa" traz para o meio científico nacional urna contribuição valiosa para a compreensão dos distúrbios do comportamento alimentar.A anorexia nervosa (ou anorexia mental) tem sido considerada por muitos investigadores como "doença do século", "da moda", pela facilidade de entrecruzamento entre estereótipos sociais ligados à representação do corpo feminino e o corpo anoréxico como limite desta mesma representação. Tais contribuições, ao insistirem numa fenomenologia do efémero, alienam-se por aí das invariantes psicológicas que fundamentam hoje como ontem e ontem como amanhã as complexas relações entre o feminino e o maternal. Tanto mais que a estas está fadado no devir adolescente o questionamento, a perplexidade e o desencontro. As angústias de natureza psicótica emergentes, sem com isso nos referirmos à psicose stricto sensu, evadem o campo da consciência na fronteira somato-psíquica, catastrofizando muitas vezes o lugar emergente a saber o da sexualidade feminina.Que as anoréticas não gozam é sabido. Porque é que não gozam é outra coisa.