O gozo pelo macabro em suas diversas formas de representação não é fato novo e constitui para leitores e espectadores nunca enfadados uma maneira de viver as emoções cruéis e primitivas, recobertas pela civilização. Mas a multiplicação das "rainhas do crime" na literatura em séries abre uma interrogação nova. Estamos diante de um fenômeno que desenharia uma imagem do feminino com uma crueldade específica, diferente da "pulsão da crueldade" classicamente ligada por Freud à sexualidade masculina em sua conquista amorosa? O que nos ensinam a esse respeito outras romancistas, Collete em particular, ou homens quando falam das mães como Louis Guilloux e tantos outros. Que ecos estranhos ressoam dos cultos ainda atuais da "Virgem cruel" andaluza? As mulheres, autoras deste livro, reuniram suas respectivas competências em psicanálise, literatura e antropologia, para tentar extrair uma imagem original e específica da crueldade. Destas páginas emerge a fantasia de uma deusas mãe arcaica, onipotente e indiferente, face oculta desse continente negro em relação ao qual a aberração suprema seria imaginar que ele possa querer outra coisa que os objetos de sua própria completude.