A partir do instante em que a poesia é vislumbrada não apenas enquanto uma produção criativa do gênio humano, ela transcende a sua própria expectativa ao falar de si mesma, inobstante, esse falar de si mesma importa a constatação de que é ali, nos versos, que o próprio espírito do poeta palavrea-se e nomeia-se a si mesmo, enquanto dá sustento e guarida às percepções hermenêuticas, no sentido de autocompreensão do mundo da vida enquanto totalidade. Quer dizer, noutras palavras, que a poesia que a priori fala de si mesma, fala na verdade do espírito essencial, o qual não se resume meramente ao Logos do pensador e do poeta-artista, todavia, sobremaneira, ao Ethos, cunhado na necessidade de evidenciar os caminhos que se desdobram na infinitude do mistério humano. Além disso, e finalmente, assume o dever de, pela finitude da existência, recorrer ao que se pode compreender acerca da sobredita natureza humana, de modo que, a situação do homem força-o a um tal engajamento que, in casu, a poesia representa o píncaro no qual há o contato com o sublime, porquanto o poeta é o escriba permanente, no tempo e na história, do espírito do mundo. Pela poesia diz-se o não-dito, o que está eclipsado, obnubilado e esquecido. A poesia não é somente um meio pelo qual o espírito aplica-se em estética e beleza, algo que agrada ou causa prazer, contudo é, a bem da verdade, a própria expressão daquilo que se quer tanto dizer, mas que não se consegue, seja por um sentimento de resignação, seja pela passividade refratária num mundo onde a discussão e fortalecimento das virtudes humanas, daí naturalmente oriundas, foram marginalizadas, senão esquecidas.