A alegria é a prova dos nove é uma tentativa de lançar um olhar retrospectivo e globalizante sobre a vida e a obra de Oswald de Andrade (1890-1954), autor que, sem dúvida alguma, melhor que ninguém incorporou as contradições de seu tempo, seja nas idas e vindas de sua vida pessoal, seja nas suas opções estéticas ou políticas. De menino rico e mimado, filho de uma das maiores fortunas de São Paulo, Oswald terminou seus dias numa precária situação, "emaranhado em dívidas". Entre a abastança e a precariedade, o escritor experimentou de tudo, sempre buscando um sentido para a existência humana. Por meio de uma seleção de frases e pensamentos originais do autor, recolhidos entre os vinte volumes que compõem sua obra completa (poemas, romances, crônicas, ensaios, entrevistas e peças de teatro), buscou-se uma síntese de seu percurso pessoal, onde público e privado se confundem para ordenar a história literária, política e moral do Brasil da primeira metade do Século XX. O livro está dividido em 17 partes, entremeadas por uma seção, Lambe-lambe, que evidencia sua franqueza, às vezes ferina, ao julgar os colegas, contemporâneos ou não, sem que, nessas críticas, haja qualquer "sombra de ódio ou rancor": * Carteira de identidade é uma espécie de prefácio às outras seções do livro; * Um homem sem qualidades aborda aspectos biográficos do homem que, morto aos 63 anos, participou intensamente de todos os grandes momentos da vida literária e política nacional; * Devoração antropofágica explicita como, ao longo de sua trajetória, o autor persegue a construção de um discurso capaz de dar à Antropofagia uma dimensão filosófica; * Alegria, Alegria é a busca de um método, "alegria dos que não sabem e descobrem"; * Dai-nos Senhor intenta uma conceituação da poesia, "a descoberta das coisas que nunca vi"; * Noves fora justifica e defende os alicerces do Modernismo como movimento de vanguarda estética; * Um bandeirante do espírito expõe as idas e vindas de seu pensamento ideológico; * Na onda vermelha, a experiência concreta com o comunismo; * O papel (e a caneta) do escritor formula idéias a respeito do ato de escrever, por aquele que acreditava que vida e obra "são a mesma coisa"; * Geração, gerações promove um balanço amargo das experiências estéticas do pós-Modernismo, principalmente por conta da hegemonia do que ele chamava de "literatura de tração animal" (os regionalistas) e da "súcia de patriarcas do soneto, de párocos do inefável" (os poetas da Geração de 45); * Mostra sua cara, Brasil! analisa o Brasil e os brasileiros, "o maior grilo da história" cuja elite intelectual "não passa de um bando de ignorantões"; * Mini-enciclopédia oswaldiana é um conjunto de sarcasmos; * Terra da garoa, a relação de amor e ódio com São Paulo, "cidade onde até as estátuas andam"; * Drágeas discorre sobre temas variados, da Academia Brasileira de Letras a Viagem; * Auto-retratos em três por quarto traz reflexões a respeito de si mesmo, um "escritor que não tem fãs e, quando distribui autógrafos é aos pregos e aos bancos"; * Autodeglutição avalia a própria obra; * O pensamento vivo de O.A. traz algumas das frases emblemáticas deste que fez do humour "a flor cáustica da liberdade". Ao final, fica o desejo de que o leitor de A alegria é a prova dos nove possa obter uma pálida ideia da complexidade de Oswald de Andrade, permitindo construir novas imagens deste homem que devotou todas as suas forças, com rara sinceridade, para mudar o país, lutando contra o autoritarismo (na política), a hipocrisia (nas relações sociais) e a mediocridade (nas artes).