Para Gilberto Mendonça Teles, a poesia é uma vocação inequívoca, reiterada, e representa sua via eletiva de interpretação do mundo. Desde sua estreia em 1955, com o volume Alvorada, até este Linear G, que recolhe sua produção poética dos últimos dez anos, o poeta estabelece uma linha e um idioma lírico - "a grande/ germinação do tempo recolhido/ à montanha discreta das raízes" -, um idioma que soube conduzir com dedicação e que é capaz de devorar toda ideia ou sentido dando a eles a força técnica do poema exímio que doma sempre sua matéria, mas que também sabe abrirse para o inacabado ou provisório dela. A poesia aqui, na melhor tradição horaciana, comove, instrui e diverte, e está pronta para acolher a variedade da experiência. Por isso está livre da sisudez que comparece muitas vezes na poesia brasileira. Sem se ater a nenhum programa prévio, Teles promove a poesia a seu lugar de origem, ela serve ao poeta, expressando sua visão, ora jocosa e irônica, ora grave e reflexiva, ora mergulhando no magma fértil da linguagem em busca de suas motivações. Os poemas deste livro desmentiriam, entretanto, a longa experiência do poeta, pois neles se percebe todo o encantamento inaugural de um olhar que imprime às coisas a sua parcela de singularidade e de beleza. Ou, por outro modo de ver, desmentiriam apenas a ideia de que a experiência produz o desencantamento, a descoloração das coisas. Linear G é um livro seminal, de um poeta vigoroso e cheio de vontade de dizer, de dizer as coisas dando-lhes mais realidade do que nossa percepção opaca é capaz de produzir cotidianamente. Com ele, Gilberto Mendonça Teles atesta mais uma vez a excelência de sua poesia, "como um sol enunciado/ na textura do entretom// para dar força e coragem,/ para quebrar o jejum,/ para fazer a dublagem/ do melhor no mais comum".