Não sabendo sequer fritar um ovo, sem jamais ter entrado na cozinha para qualquer elaboração culinária que não fosse fazer um café (na cafeteira) ou um chá, jamais poderia me imaginar prefaciando um livro de culinária...a não ser em nome do prazer de apreciar a arte da gastronomia e em sendo a autora, essa notável figura humana que é Nídia Lafemina, que eu sempre intitulo publicamente, a "mestra culinária da orla". Além de ter ajudado tanta gente nessa apreciável e complicada arte, nos 40 anos em que ministra seus cursos, super concorridos, Nídia tem um jeitinho especial em saber transmitir de uma maneira leve e convincente, de forma a incutir em suas alunas, o quanto estão lidando com um dos prazeres maiores da vida, ao invés de passar o compromisso chato de aprender a cozinhar para atender a família em suas necessidades. O que é louvável, sem dúvida, mas sem qualquer toque de charme ou mesmo, sensualidade, já que sexo e comida caminham juntos no sensorial de suas ofertas. Assim como o carinho e a devoção. O que o cinema nos mostra em filmes como "A festa de Babette". Nós últimos tempos, Nídia conseguiu quebrar a barreira do machismo, vencendo um tabu: os cursos para os homens, cheios e animados, à noite, o que a tem encantado. Falo em quebrar barreiras, não pelo prazer do homem em cozinhar, o que é muito conhecido, mas em frequentar um curso desse tipo. Vejam a cena: numa noite da semana, ele diz aos amigos que não poderá jogar bola, porque tem um compromisso: sua aula de culinária. E sem a esposa, o que mais inusitado. Não é maravilhoso? Vira e mexe, como homem sozinho, apesar da companhia de uma funcionária do lar, muito boa cozinheira, recebo os quitutes da autora do livro. Chegam com um sabor inigualável em termos de paladar e com o sabor do carinho com que ela envia, curiosa por saber depois se gostei da torta, do bolo, da carne assada ou de suas inigualáveis sopas. Assim como faz comigo, Nídia faz com todas as alunas e amigos. Esse é o segredo de seu sucesso em seu mister. Muito longe de ser apenas um trabalho, distante de uma atividade para preencher tempo ou ter a companhia de amigos, a arte de Nídia Lafemina está em seu enorme coração, apesar de sua pequena estatura. Ela faz com amizade, emoção, pensa no prazer do outro ao invés de gabar-se de sua comprovada excelência. Aliás, é muito humilde nisso. Eis porque demorou 40 anos para editar o primeiro livro. Dá para compreender; quem faz com amor, esquece-se da fama, da notoriedade, não está nem aí para a vaidade humana. Concentra-se no afeto, no sentimento, na alegria de proporcionar aos outros. Pelos prazeres maiores. Como a generosidade e a doação. Assim é Nídia, essa admirável profissional, essa amiga e que mãe. LUIZ ALCA