No longo processo em que Wittgenstein se ocupa de algumas de nossas certezas mais banais — “Eu sei qual é o meu nome”, “Existem objetos físicos” —, nós o vemos chegar a um espantoso resultado: a expressão linguística dessas certezas inevitavelmente irá nos trair. No exato momento em que julgamos manifestar as verdades mais triviais, nossa linguagem demonstra sua precariedade e simplesmente falha. Mas isso não significa, o filósofo insiste, que deveríamos suspeitar de tais certezas. Significa apenas que nossa confiança deve repousar não na linguagem (em nossa expressão da certeza), mas em nossa ação (no que fazemos ao agir com certeza). “No princípio era o ato.” Neste verso, que Wittgenstein empresta de Goethe, manifesta-se talvez o leitmotiv deste livro. O que ele nos diz é que qualquer tentativa de apontar para os fundamentos de nossas certezas terá que ir além da linguagem.