Homens anfíbios apresenta um complexo quadro da reprodução social de um grupo doméstico camponês que tem como marca uma perfeita adequação do homem com a natureza, sem que sejam eliminadas as dificuldades de sobrevivência e a rudeza do cotidiano camponês. O caboclo ribeirinho, que vive às margens do rio Amazonas, convive com uma terra que fica submersa por quatro a cinco meses todo ano. A reprodução da sua unidade familiar, neste sentido, depende de um rio, de uma "terra molhada" (várzea), e de uma "terra firme", espaços que se misturam, criando uma linha quase imaginária entre as superfícies terrestre e aquática. Neste livro, as estratégias de sobrevivência do caboclo ribeirinho tornam-se complexas, passando por trabalhos de "ajuda mútua", "acessório" ou assalariado. Os homens anfíbios conseguem não só retirar os meios de sobrevivência necessários, mesmo que escassos, da terra e da água, como também constroem uma rede de relações sociais de troca e de complementaridade no "mundo do trabalho". Ao fugir dos modismos presos a uma má utilização de conceitos como identidade e representação, a autora nos põe em contato direto com a identidade do caboclo ribeirinho com seus códigos sociais específicos. Se os homens anfíbios estão perfeitamente equilibrados e harmônicos no ecossistema amazônico (aquático e terrestre), eles aparecem como se estivessem "fora d' água" na lógica e na racionalidade capitalista.