O poeta-agrônomo português Ruy Cinatti (1918-1986) tem nas ilhas uma figura geográfica de enorme importância em sua vida. Ele nasceu em uma (em Londres, Inglaterra) e, anos depois, sentiu-se atraído por outra, nos Mares do Sul, distante da Europa: Timor. Foi para lá em 1946, contratado como secretário do primeiro governador da longínqua colônia portuguesa, restituída ao país após a ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Em Timor, Cinatti encontrou o paraíso na terra, mas também presenciou os horrores e injustiças por que a população timorense passava. Timor Amor é a primeira publicação dedicada à obra de Ruy Cinatti no Brasil, uma antologia organizada por Vasco Rosa. Nela estão alguns de seus escritos sobre Timor, como o diário poético de uma expedição e a crítica de uma coleção de selos postais com plantas dadas como nativas na ilha, entre as quais Allamanda cathartica L., vulgo corneta, um arbusto trepador brasileiro usado na época como ornamento em residências da capital Díli. Timor Amor leva o mesmo nome de outro livro seu, de versos, publicado em 1974. "Quem conviver com os Timorenses talvez possa aperceber-se, se é que a cegueira ou a sensibilidade não o impedem de todo, daquele mínimo de delicadeza que é condição de comunhão entre os homens e atributo de relações humanas duradouras. Há um gesto que seduz: simples franzir do beiço embigodado num velho que depois se acolhe como criança no abraço que o envolve", escreve Cinatti sobre o povo que o acolheria pelo menos mais uma vez (ele retornou ao país em 1950, onde ficou até 1955). Em Timor, Ruy desenvolveu, no quadro de suas funções públicas e para além delas, uma intensa atividade de reconhecimento da ilha, explorações botânicas e florestais, recolhendo amostras para o Jardim Botânico de Lisboa e artefatos para o Museu Etnográfico Português.