O que leva um sindicato de trabalhadores a enveredar pelos meandros da acumulação patrimonial e financeira aplicando aí os recursos econômicos oriundos da cotização voluntária e autônoma dos trabalhadores? O que o leva a fazer incursões nos seletivos e nefastos caminhos dos fundos de pensão, chafurdando nos escusos interesses das privatizações? O que o faz tornar-se uma força do capital na condição de acionista e/ou gestor e desse modo laborar de fato pela desconstrução da alternativa crítica do trabalho? O que leva tantos setores do sindicalismo a praticar o capitalismo sindical, praga que vem avassalando sindicatos em amplas esferas e em múltiplas partes do mundo? Fazendo um quadro minucioso, ainda que sintético, das experiências do sindicalismo negocial na Alemanha, Suécia, estados Unidos, Israel, Rússia (emesmo na ex-União Soviética), China, México, Brasil, dentre tantos outros exemplos, Capitalismo sindical, de João Bernardo e Luciano Pereira, é um pequeno livro explosivo que realiza uma verdadeira devassa nessas práticas sindicaisa que, quanto mais parecem enterradas, mais fortes ressurgem. A constatação do texto é cáutica: quando mais verticalizada é a burocracia sindical, quanto mais distanciada está de suas bases operárias,mais e mais ela mergulha na lógica do sindicalismo negocial capitalista. E, ao realizá-lo, acaba por transfigurar crescentes parcelas do sindicalismo que, em sua origem, nasceram como uma ferramenta do trabalho em sua luta contra o capital, metamorfoseando-se na mais nova (ou será velha?) modalidade do sindicalismo.