Por muito tempo à obra de Amadeu Luciano Lorenzato, esteve associada a tradição popular, contribuíram para isso a freqüência com que a paisagem cotidiana, as favelas e os casarios aparecem em seus trabalhos. Porém uma análise que se restringisse a essa primeira relação ignoraria aquilo que seu trabalho tem de mais importante. Lorenzato sempre esteve despreocupado com normas ou tendências pré-estabelecidas que, aliás, ele conhecia bem em função do longo período que permaneceu na Europa tendo contato com toda a produção artística do continente, desde o Renascimento até as primeiras vanguardas do século XX. Como artista desejoso em investigar o próprio fazer produzia sua tinta, experimentava suportes e materiais diversos criando texturas com recursos herdados de sua antiga profissão; esculturas e desenhos em placas de cimento; estudos e croquis com papéis que estivessem ao alcance da mão - convites de exposições, caderno do filho, maços de cigarros. Perceber seu trabalho como um produto de manifestação popular é portanto incorrer num erro, pois seu fazer nada tem de ingênuo. O artista não segue regras estritas nem se apega a estruturas estilísticas pré-determinadas, pois conforme registrou no verso de um trabalho de 1948 é "pintor autodidata e franco atirador. Não tem escolas. Não segue tendências. Não pertence a igrejinhas. Pinta conforme lhe dá na telha. Amém."