Um dia, uma mulher acorda desesperada. Banhada em sangue, ela constata que a cicatriz de um corte sofrido no dedo há 15 anos reabriu de forma inexplicável. Ao mesmo tempo, um sacerdote descobre os horrores guardados sob a neve da pequena localidade italiana de São Judas: corpos de adultos e crianças mortos de maneira que desafia a lógica e que vão colocar em teste a fé do pároco. A relação entre o sangramento tardio e a série de assassinatos (seriam mesmo assassinatos?) vai ligar a vida desses dois personagens para sempre. XY é o mais novo romance do escritor italiano Sandro Veronesi, ganhador do prêmio Strega por Caos calmo - adaptado para o cinema por Antonello Grimaldi e Nanni Moretti -, também publicado no Brasil pela Rocco. Giovanna Gassion é psiquiatra e psicóloga, e sempre pautou sua vida pela racionalidade, mantendo enterrados, bem fundo, dentro de si, seus traumas, dúvidas e desilusões. Ao acordar banhada em seu próprio sangue, Giovanna tem reaberta não só sua ferida, mas também toda a experiência que a levou ao momento que cortou o próprio dedo na adolescência. Sem explicações para o fato inusitado, a médica praticamente tem sua sanidade posta em xeque quando descobre que o corte voltou a sangrar justamente no mesmo momento em que ocorreram as mortes em São Judas. Já o sacerdote Don Ermete tem sua vida posta de cabeça para baixo ao ser uma das testemunhas que descobriram os corpos enterrados sob o gelo. A polícia - desorientada e que não sabe se atribui a chacina a um atentado terrorista - o elege como um dos suspeitos. Perseguido pelas autoridades, que tentam mascarar a verdade do público, adulterando fatos e documentos oficiais, o sacerdote não tem escolha a não ser permanecer na localidade numa espécie de cárcere instituído pela polícia a todos os habitantes de São Judas. Afinal, a morte de oito adultos, duas crianças, um cavalo e um cachorro mexe profundamente com a pequena localidade montanhesa. Mas, mais impressionante que o número de cadáveres, é a característica bizarra dos óbitos: as vítimas morreram, cada uma delas, de um jeito diferente, seja por doença, como um tumor; por um acidente, como um engasgo com uma casca de pão; ou até mesmo por uma mordida de tubarão - em plena montanha! Como explicar a concentração de corpos vitimados por causas distintas, em tempos distintos? E mais: teria alguém sobrevivido à "chacina"? Uma árvore banhada em sangue congelado representa um monumento doentio ao estranho acontecimento. Determinado a desvendar o mistério, o sacerdote procura esclarecimentos científicos e racionais na figura da psiquiatra. O que ele ainda não sabe é que a médica está longe de sua sanidade habitual e talvez não tenha muito a contribuir para a solução do caso. Ou seria ela a chave para resolver todo o mistério? Em XY, Veronesi alterna as vozes dos personagens, contrapondo a visão científica da mulher (X), representada pela médica; e as questões da fé deste homem (Y), representado pelo sacerdote. Como compreender a origem do Mal? Seria este um acontecimento sobrenatural? A busca por uma explicação vai levar a dupla a rever seus conceitos, em meio a uma trama que aborda questões como delírio, impotência, medo e angústia.