Este livro tem a marca indelével e irônica do Francisco Menezes Martins, a começar pelo título, Impressões Digitais. Os rastros do autor estão por toda parte na obra como traços de uma inteligência que se delicia em descobrir paradoxos, apontar contradições, revelar jogos de sentidos ou, simplesmente, em dialogar com os próprios passos num eterno retorno ao ponto de chegada. Na perfeição de um crime que se finge de imperfeito, o pensador faz de conta que desaparece para que o leitor possa apreciar tranqüilamente a cena dos acontecimentos. Quando, porém, faz seu retorno, seguindo uma rede de indícios ardilosamente disseminados, desmonta as falsas conclusões sem impor qualquer verdade fechada. O jogo é envolvente, rico e acessível de qualquer ponto da rede. Basta dizer que se pode ir da vertigem do vazio ao devir cyborg sem qualquer lamentação ou moralismo. Nestas Impressões Digitais tem-se algo muito sofisticado e original, o creme do crime das idéias, ou o crime do creme da digitalização do pensamento. Poucas vezes se encontra uma articulação de argumentos tão precisa e, ao mesmo tempo, tão aberta à polissemia das impressões imaginárias do tempo, das culturas e dos homens.