A publicação de Se Parmênides na França, em 1980, significou um marco, não só para os estudos sobre a filosofia grega antiga em geral e para a sofística em particular, mas também para a própria filosofia tout court. Iniciava-se ali a obra não apenas de uma grande helenista, mas também de uma das filósofas mais importantes das últimas décadas do século XX. Os efeitos de Se Parmênides foram múltiplos. Como um trabalho realizado numa certa interseção entre filologia e filosofia, o livro permitiu desnudar os processos interpretativos em jogo na edição de um texto antigo (a discussão com Diels, nesse sentido, é fundamental), assim como os pressupostos vigentes e atuantes na interpretação filosófica de um tratado como o De Melisso Xenophane Gorgia ? uma obra que chegou até nós junto com o corpus aristotélico, mas cuja obscuridade impediu que se tivesse dela uma compreensão satisfatória, seja sobre seu autor, seja sobre os autores dos quais ela trata. Um verdadeiro objeto não identificado da antiguidade, o tratado teve uma sobrevida, talvez, pelo fato de ter sido uma das duas únicas fontes (a outra é Sexto Empírico) do mais importante texto que chegou até nós da sofística grega, o Tratado do não-ser de Górgias. Se Parmênides é, nesse sentido, não só uma novíssima e revolucionária interpretação de Górgias, da sofística e da filosofia grega em geral, da doxografia e da relação entre filologia e filosofia, mas, sobretudo, da própria relação da filosofia com a linguagem. Cláudio Oliveira