Longe de assumir um passadismo saudoso, a poesia de Emulação e Maravilhamento (selo Escrituras) assume as angústias da modernidade, da ausência de Deus ao vazio da história. E da licenciatura. Da literatura como presença manifesta do vazio concreto do nosso horizonte cultural. Aliando um fino humor (como em Se, paródia bem-vinda de Rudyard Kipling) a uma alta densidade espiritual, os versos de Mário Dirienzo mantêm, ao longo do livro, uma suavidade rítmica, oscilando entre rimas e não-rimas, entre o poema longo e o poema curto, misturando a sintaxe das aliterações ao corte brusco, a cesura imprevisível a uma dicção quase de cordel (como em Nome). Em outros poemas, onde sua voz ecoa livremente como Walt Whitman ou Pessoa (como em Epístola ao apóstolo), a poesia surge ora como a sombra tranquila de uma quaresmeira, ora como as ramas silenciosas de uma antiga hera. Mário Dirienzo traz-nos mais que um belo livro, um livro de maravilhamento e dissimulação. Maravilhamento pelas coisas, pelos entes, pelos interstícios do mundo. Dissimulação da angústia do poeta, que anda pelo mundo em busca de um sentido, um sentido a mais para o existir.