A Arte, de João Rodrigues Fontes (Escrituras Editora), narra a história de Lúcio Cardoso, boxeador profissional que, após perder parte da memória devido a ferimentos decorrentes de uma luta, descobre-se envolvido em uma trama de mistérios e falsidades em que todos parecem se esforçar para esconder dele a verdade. Nobre arte, sweet science, vários são seus nomes. Nenhum outro esporte tocou tanto a imaginação popular e a cultura ocidental quanto o boxe. São centenas de filmes, romances e contos que popularizaram lutadores, reais ou fictícios, revelando um cotidiano de imensa beleza humana, tanto física quanto dramática. Como compreender esse fascínio? Segundo Muhammad Ali, a maioria do público do boxe é formada por idiotas. Uma coisa, porém é certa. Trata-se, pelo menos, de uma forma milenar de idiotia: pugilistas em combate foram retratados em pinturas sumérias de cerca de 3000 a.C., enquanto a Ilíada, de Homero (séc. VII a.C.), contém a mais antiga descrição conhecida de uma luta de boxe. Intelectuais e artistas do porte de Ernest Hemingway, Jack London, Norman Mailer e Joyce Carol Oates têm empregado seu talento na tentativa de capturar fragmentos desse mundo cheirando a luvas fedorentas, ginásios decadentes e lonas encardidas; o sonho o desespero, a determinação - e a morte. Segundo o ativista antiboxe Manuel Velazquez, de 1890 a 2007, 923 boxeadores profissionais e 293 amadores perderam a vida nos ringues