Um duplo olhar, antropológico e histórico, sobre as três ideias- -chave do fundamentalismo nazi: a eliminação dos Judeus, a erradicação das Igrejas e a renovação racial do povo alemão. Uma "fé nova" que cristaliza a crença na ascensão de uma "raça nórdica" eleita. Desde 1933, o Estado racial impõe o controlo eugénico da reprodução humana e a expulsão da "comunidade do povo" dos seus membros "inferiores" de corpo ou de espírito. No imenso "espaço vital" conquistado a Leste, porém, a loucura racial radicaliza-se e desdobra-se: enquanto uma "selecção" sem fim preside ao Holocausto, persegue-se, um a um, os Eslavos de "sangue alemão oculto" para melhor "refrescar" com a sua substância a Germanidade experimentada. Onde começa o alógeno? Onde se inicia a mestiçagem? Onde termina a purificação? Obsessões que desenham um circulus diabolicus. Meio século após a libertação de Auschwitz, importa, ainda e sempre, ultrapassar o seu traçado para compreender, nas suas lógicas múltiplas e mortíferas, um racismo nazi cujo alcance há quem ouse, hoje, atenuar. Para que se perceba as verdadeiras dimensões do nazismo e nunca se esqueça.ÉDOUARD CONTE, etnólogo no Centro Nacional de Pesquisa Científica e membro do Laboratório de Antropologia Social, é investigador no Centro Marc Bloch de Berlim. CORNELIA ESSNER, historiadora, ensinou na Universidade Livre de Berlim.