Nada meu vinga, de Gabriella Moura, é desses livros de poesia sobre o qual há muito a dizer. Nem todos são assim, embora muitos sejam. Como não vem ao caso dissertar longamente, farei um foco, este: da metáfora Eu sou. Essa metáfora e variantes correspondem a uma autoidentificação como ato de autorreconhecimento. Que um livro de poemas tenha ênfase no eu, e como é o caso, na eu, não é nenhuma novidade. Mas não venho tratar de novidade, e embora jovem, a poeta tem amadurecimento estético-verbal suficiente pra não se perder em busca de novidades, sabendo que poderia, na busca, perder-se num museu. Há cento e onze vezes de emprego de eu pela eu desde o título do livro, pois minha e meu são variantes de Eu sou. Em doze vezes diz sou, e dessas, em cinco vezes diz literalmente eu sou, e em quatro, diz não sou. Todas as vezes, a eu é a mesma. Persiste. Amplia pra cento e quinze vezes, variando pra mim. Não se trata duma eu ególatra, muito menos egocêntrica e menos ainda egoísta. Não (...)