Pedro Juan Gutiérrez diz que "ao cubano só resta o rum, a salsa e o sexo". Se o autor não fosse desconhecido em seu próprio país, aos cubanos poderia restar também o prazer dolorido de se verem retratados em O rei de Havana, história de um anti-herói adolescente movido a sexo e inteligência cega. O território deste romance é o mesmo inferno miserável, sórdido e intensamente sensual que Gutiérrez visitou em Trilogia suja de Havana, sua primeira obra em prosa. A abertura do livro é brutal: Reynaldo assiste à morte da mãe, da avó e do irmão. Depois, lançado numa instituição de menores, aprende a se virar e, ao fugir e ganhar o mundo, passa a achar que sua vocação para o sexo pode ser uma chave para a sobrevivência no submundo de Havana. A ficção de Gutiérrez tem atraído um grande público. Há os que o consideram sensacionalista, há os que o chamam de maldito. De fato, alguns traços de sua obra encaixam-se nessas duas categorias, mas ninguém diria que estão ali como chamariz. São um elemento a mais de composição, participando organicamente de uma prosa despretensiosa e impulsiva, de uma escrita que se lê com genuíno prazer literário.