Desde os anos 1980, centenas de milhares de pessoas no Brasil têm ocupado terras, onde montam acampamentos e passam a reivindicar sua redistribuição,realizando na prática o debate sobre reforma agrária no país. Não obstante,até recentemente as ocupações com acampamentos não atraíam a atenção dos estudiosos do mundo rural. A maioria deles, preocupada em examinar o que ocorria após a redistribuição das terras, interessou-se pelos assentamentos implantados pelo Estado nas áreas que haviam sido ocupadas e não se interrogou a respeito das ocupações que lhes haviam dado origem. Outros centraram o olhar nos movimentos que os promoviam - notadamente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) - e em suas manifestações, e também não problematizaram as ocupações. A partir de uma pesquisa realizada em 1997, em Pernambuco, Lygia Sigaud sugeriu a constituição de uma linguagem social própria para a reivindicação de terras no Brasil: a forma acampamento. Junto com os demais autores deste livro e alguns outros parceiros, a antropóloga recentemente falecida empreendeu pesquisas etnográficas que buscavam compreender as características dessa linguagem, inaugurando um interesse mais aprofundado pelo estudo dos acampamentos.Por meio de uma abordagem processual, inspirada em Norbert Elias; etnográfica,que enfatiza o relato dos participantes mas integra vários tipos de fontes; e comparativa, este livro apresenta os resultados de uma longa pesquisa sobre a sociogênese da linguagem das ocupações de terra no Brasil.Como ocorreram as primeiras ocupações de que se tem notícia? Como explicar que, em determinado momento da história brasileira, homens e mulheres tenham se disposto a ocupar terras para reivindicá-las ao Estado? Que relações estabelecer entre as primeiras ocupações, na década de 1960, e aquelas que conhecemos atualmente? Estas são as principais questões que nortearam os esforços dos autores.