A poesia/é uma caixa/cheia de pregos/enferrujados/protegida pela pele/de um tomate, definem os versos finais de Oficina, poema de abertura desta sexta coletânea de Alexandre Pilati. A imagem da poesia como algo cortante e perigoso, protegido por uma membrana orgânica, perecível e fragilíssima, parece inverter o sentido da imagem que dá título ao livro, extraída do poema Colheita, de Louise Glück, que Pilati utiliza como epígrafe. Nele, a poeta estadunidense fala da última colheita de outono, das frutas e vegetais já danificados pelo frio. Os tomates parecem cérebros humanos cobertos por linóleo vermelho. Aqui, o interior do objeto, tomate ou cérebro, é frágil e aparece protegido por material resistente, impermeável e industrial. Mas o linóleo vermelho não impede a ação do tempo: o tomate apodrece, assim como o prego enferruja. Assim, apesar das suas diferenças, as duas matérias movimentam-se, isto é, mudam de forma, transformam-se. Embora em diferentes velocidades, tanto o ferro (...)