O interessante conceito de ostranenie [tornar estranho], formulado por Viktor Shklovsky em 1917, discute uma significativa teoria do ponto de vista que assinala o estranhamento do discurso, para exigir o empenho do leitor/espectador em decodificar o texto. A leitura da poesia de Luci Collin hoje conduz ao que há de mais contemporâneo, ao mesmo tempo em que joga com o estranhamento de sua sintaxe, entre fissuras e rupturas de percepção, decisivas para a construção de um encadeamento ímpar e denso como a que, por exemplo, se apresenta nos versos do poema A Sombra: [.] aquele que em trôpegos traços/ se configura o que fica/ num exercício constante/ forjado de entretantos/ tentando ser o que/ parte/ [.] Desdobramentos, lacunas ou ocupações plenas da força de seus poemas, é o que faz de Luci Collin uma voz surpreendente e singular no cenário brasileiro da literatura atual. Jussara Salazar.