Como naquele instante em que, ao vestir-me, senti que o meu corpo era o corpo da minha mãe; que eu era ela ou o contrário, não sei muito bem, e assim me tornei oficialmente adulta. Denise reconhece na bisavó as suas próprias pernas. Aquelas que seguram o peso do corpo, da família, da casa, do trabalho invisível e do trauma. Enquanto mulheres sabemos bem que verbos guardam para nós: suportar, servir, aguentar, ouvir, carregar, engolir, calar, cuidar, cuidar, cuidar, calar variantes viciadas da subalternidade. O que herdamos das nossas mães e avós é mais carga simbólica que genética. Ressentimos no corpo as falhas da História e perdemo-nos na repetição. Mas o que temos de nosso afinal? Quem podemos nós ser no meio da confusão? Denise volta ao início. Observa-se. Descreve-se para se encontrar e, ao fazê-lo, propõe um novo atlas sensível da anatomia feminina, que é poema e manifesto insurjam-se, moças, contra o ato de contrição. O direito à ira é vosso, assim como o desejo, o (...)