Em ritmo cadenciado, ecoando o rap ou o slam, ou ainda as rezas do alcorão, Fatima Daas mescla experiências pessoais e ficção num livro que desafia as convenções da literatura. Um romance? Um poema em prosa? Um ensaio ficcional? A linguagem fragmentada costura memórias, questionamentos e confissões, revelando a busca por uma identidade própria, que se debate entre a pressão familiar e a da religião, os desejos e a experiência de amor com outras mulheres. O monólogo de Fatima Daas se constrói por fragmentos, como se ela atualizasse Barthes e Mauriac no subúrbio parisiense de Clichy-sous-Bois. Ela cava um retrato, como uma escultora paciente e atenta... ou como uma desarmadora de bombas, consciente de que cada palavra pode fazer tudo explodir, e que devemos escolhê-las com um infinito cuidado. Aqui, a escrita procura inventar o impossível: como conciliar tudo, como respirar em meio à vergonha, como dançar em um beco sem saída até abrir uma porta onde antes havia um muro [...]