O volume 3 das Cartas do padre Antônio Vieira, em continuação e fecho aos dois primeiros, é uma reedição da clássica edição de 1925, a cargo de João Lúcio de Azevedo - também responsável pelas notas. Divide-se em três partes e dois apêndices, além da cronologia e do índice remissivo de nomes e assuntos: as cartas de seu segundo período em Roma (1674-1675), onde prega com enorme sucesso em italiano e é convidado (sem aceitar) para ser o pregador do papa; as cartas dos seis anos que passa em Lisboa na expectativa de integrar o conselho do rei (1675-1681); e as cartas de seus anos finais - e intelectualmente muito produtivos - na Bahia (1682-1697). Além disso, o volume também apresenta onze cartas inéditas à época da primeira edição (abarcando o período entre 1653 e 1668) e uma "Carta apologética ao padre Jácome Iquazafigo", na qual Vieira responde às especulações de que consideraria o sapateiro e "profeta" do sebastianismo conhecido como Bandarra mais importante do que os profetas bíblicos. A presente publicação contou com o apoio cultural do governo português através da DGLB (Divisão Geral do Livro e das Bibliotecas). O principal interlocutor de Vieira, Duarte Ribeiro de Macedo (1618-1680), que predomina também neste volume, sintetiza bastante bem os amplos interesses e as posições gerais de Vieira: advogado, diplomata, economista e escritor, era um um dos pensadores políticos portugueses mais marcantes de sua época, defendendo, como Vieira, a modernização econômica de Portugal, através principalmente da instalação de manufaturas, do livre comércio e do estímulo às classes empreendedoras, motivo que leva o padre jesuíta a defender os cristãos-novos da perseguição da Inquisição (em função de sua origem judaica). Antônio Vieira é unanimemente considerado um dos mais importantes intelectuais do século XVII e um dos mais influentes homens de seu tempo no Brasil e em Portugal. Somado à importância do período histórico em que viveu, marcado pela Contra-Reforma, a Inquisição, a consolidação da província do Brasil frente a reivindicações espanholas e holandesas, para não falar da própria emergência do mundo moderno nos estertores da Idade Média, suas cartas, que refletem a posição de um homem que esteve no centro de todos esses acontecimentos, têm interesse e relevância que não podem ser exagerados. Para não falar do inesgotável prazer de ler ou reler aquele a quem Fernando Pessoa chamou, simplesmente, de "o imperador da língua portuguesa".