O polêmico autor francês Jean-Charles Marie Expilly (1814-1886) viveu no Brasil em meados do século XIX. Ao contrário de muitos viajantes europeus, ele não foi trazido em missão do governo. Veio enriquecer, fazer fortuna, faire l´Amérique. O tempo que aqui permaneceu, como fabricante de fósforos no Rio de Janeiro e representante comercial pelo interior, permitiu-lhe escrever dois livros sobre o que viu e viveu Le Brésil tel qu´il est (1862) e Les femmes et les moeurs au Brésil (1863), despertando a indignação dos leitores brasileiros, acostumados a se verem retratados com benevolência e entusiasmo por parte dos viajantes estrangeiros encantados com a natureza e a paisagem locais. Na contramão desse olhar positivo, os textos de Charles Expilly denunciam a corrupção, a crueldade para com os negros, a condição feminina, as injustiças sociais, a arrogância das classes abastadas brasileiras, acusando o sistema escravocrata como culpado por toda essa degradação dos costumes. Suspeita-se de que sua obra polêmica seja uma das fontes de Gilberto Freyre, na composição de sua trilogia sobre a sociedade. Reunimos aqui uma seleção e tradução dos textos mais representativos dessas duas obras, no intuito de revelar, ao leitor brasileiro de hoje, um olhar crítico e amargo do Brasil oitocentista, que poderá suscitar reflexões e debates sobre esses temas, ainda muito atuais. Acreditamos que, com isso, possamos trazer contribuições aos estudos de ciências humanas e sociais, ao apresentarmos questionamentos que podem favorecer as investigações dos problemas brasileiros, na busca da construção de um país melhor.