Este é um livro que entrelaça artes visuais e a história do Brasil nos anos 1960 e 70. Nesta época, bem o sabemos, as manifestações estéticas estabeleceram uma profunda relação com as forças políticas e sociais de seu tempo. Cristina Mura volta sua atenção para a produção de um dos artistas fundamentais do período para realizar esta tarefa. A autora soube se equilibrar, com muita propriedade, sobre a tênue linha que, uma vez ultrapassada, pode deformar o contexto histórico quando privilegia o aspecto formal e, no sentido contrário, corre o risco de transformar a obra artística em mero reflexo do momento na qual ela se insere.Na análise das obras de Gerchman como Lindonéia (transformada em canção por Caetano Veloso e Gilberto Gil), Caixas de morar e Cartilha no superlativo, Cristina Mura atenta para o olhar agudo do artista que revela, entre outras coisas, a melancolia que se faz presente na cultura de massa que então se consolidava no país, a resistência ao regime ditatorial civil-militar de 1964 e a ironia oculta nas coisas do cotidiano.Ao mesmo tempo, durante a leitura, descobrimos como a linguagem apolítica da pop art norte-americana foi, em alguns momentos, utilizada por Gerchman na criação de uma obra de arte socialmente crítica.