Dona de uma obra que tematiza a Palavra e, em conseqüência, a escritura (suas possibilidades, conseqüências e responsabilidades), Arriete Vilela abre seu novo livro com João Cabral de Melo Neto: Escrever é estar no extremo de si mesmo, anunciando o que se vai experimentar até alcançar o ponto final indicado na epígrafe: a luta com, na e pela Palavra, para dar corpo a realidades, que, em última instância, são mesmo lãs ao vento: Palavra: um modo metonímico de me fazer legar uma escritura de esfacelamentos, de recortes da realidade, de bordejos e de desesperanças., diz o texto, e dispensa explicações. sobre esse metonímico que não pôde ser evitado. O texto está convencionado como uma longa carta ou uma demorada conversa com a Senhora Editora, a quem a narradora começa informando: nunca a palavra me causou tanta estranheza como agora. Podia ter dito tanto encantamento ou encantamento e estranheza. Seja em decorrência da estranheza ou do encantamento, Arriete desenvolve seu texto em demanda das possibilidades da Palavra. (...) A escritura como discussão do escrito, como procura do melhor texto, que continua sempre sendo um dos possíveis. E isso a própria Arriete explica, quando se apropria do dito popular, dizendo que quem conta um conto aumenta um sonho, para confirmar, páginas adiante, a sabedoria tão antiga: quem conta um conto aumenta um ponto. Evidentemente, isso não explica o texto de Arriete. Apenas oferece uma pista para o entendimento de sua escritura e de seu projeto poético. (Sônia van Dijck)