O ideal contemporâneo de uma educação que respeite a criança e o seu desenvolvimento psicológico decorre de uma representação e de uma valorização da infância que evidencia o desenvolvimento da reflexão pedagógica e do conhecimento da criança. Foi entre 1870 e 1914 que a teoria evolucionista filtrada por Spencer contribuiu para o nascimento de uma perspectiva verdadeiramente nova sobre a criança. A psicologia da criança é, desde logo, marcada pelos conceitos científicos e os problemas teóricos da biologia do século XIX. Citemos Edouard Claparède, que descobre o valor dos jogos das crianças, Émile Egger, que estuda os primórdios da linguagem, Georges-Henri Luquet e Bernard Pérez, que consagram as suas pesquisas aos primeiros anos da criança. Ferdinand Buisson, director do ensino primário junto de Jules Ferry e partidário da laicidade, intervém directamente nesses debates e defende o "método activo" que incita o aluno a procurar sozinho. De Darwin a Piaget, à medida que a psicologia genética vai tomando forma, afirma-se o poder dessa nova concepção da infância de mudar, não apenas os métodos pedagógicos, mas também as finalidades da educação. Superando as clivagens dos domínios respectivos da história da pedagogia e da instituição escolar, da filosofia da educação e da epistemologia, esta obra suscita aproximações inéditas. É assim que estes debates, ocorridos na passagem do século XIX para o século xx, esclarecem a ideia contemporânea de "situar a criança no centro das aprendizagens"...DOMINIQUE OTTAVI, conferencista em ciências da educação na Universidade de Paris VIII, prossegue as investigações nos domínios da psicologia e da filosofia da educação nos séculos XIX e XX.