O que há de eterno em nós faz do tempo ilusão. Nós somos tempo, e isto não quer dizer que somos ilusão, mas somente que o tempo em nós é uma ilusão. E é o que há de eterno em nós que faz deste tempo em nós ilusão. Este algo eterno em nós nos leva, na transcendência e no batismo do espírito, ao encontro do Eterno, e este encontro se dá por meio do eterno que há em nós. O sopro de vida, o espírito sintetizador, não importa que nome damos a esta eternidade em nós, basta sabermos que ela está lá, fazendo do tempo o efêmero e passageiro de uma ilusão. Quem vive no eterno assume todo caráter temporal do tempo para transcendê-lo, quem vive no eterno temporaliza seu existir para então superá-lo, quem vive no eterno eterniza-se. E com que autoridade disse todas estas coisas? A autoridade que toda autêntica tematização sobre a eternidade possui, esta tematização que somente o ouvir fundamental guiou, nos é dada pela própria entrega ao eterno. Uma das tolices dos homens está em crer que a sabedoria é algo que advém com a idade. Um homem velho não é sábio porque tornou-se velho, um sábio só o é quando assumiu seu si mesmo e entregou-se ao seu poder ser mais próprio. É assim que temos sábios em todas as esferas do saber. Com as coisas eternas as coisas também são assim, porém são também, deveras, infinitamente diferentes. A pesquisa, a dedicação ao rigor, a entrega ao serviço intelectual, ou mesmo a autêntica reflexão acerca do existir que caracteriza os homens comuns, que mesmo fora do meio acadêmico-científico tornaram-se grandes sábios porque tornaram-se seres humanos gigantescos, todos estes elementos podem estar e estão presentes quando falamos da sabedoria acerca das coisas eternas. Mas há algo mais, este algo mais é exatamente o sentir o eterno em nós, o ouvir fundamental, o pôr-se entregue inteiramente a escuta fundamental. É esta entrega completa que autoriza toda sabedoria acerca das coisas eternas [...]