Nem todo dia forja em si uma poeta, por isso se adverte logo ao leitor que tenha a sorte-sina, o sobressalto de tropeçar neste (não tão pequenino) livro de estreia de Julya Vasconcelos: use um petardo, uma bomba bem pequena, para abrir os flancos dos sentidos e deixar-se navegar pelos líquidos e pelas imagens desta voz poética que, ao fim e ao cabo, sabe de matérias finas do inefável (como a já soprada Súbita insistência das coisas no título) e se desdobra para chegar a ter o peso de uma viga, refundação de mundo, mas uma que seja pássara e se saiba água. São imagens de uma voz que se insurge consciente de estar projetando o verbo em cena, por uma marcada via que se reconhece gênero-mulher; em estocadas como no poema O golpe: corpo humano mulher brasileira vinte dedos e se desdobram como as camadas da bonequinha russa Matrióchka, umas contendo outras mulheres em si mesmas, ser de multiplicidades. As palavras se apresentam como precisos pontos de sutura, nada sobra. [...]