O novo livro de Myriam Scotti, Mulheres Chovem, traz o encantamento típico de toda boa poesia, permitindo ao leitor ser sugado por um torvelinho de palavras que escorrem do papel e, como epifania, passam a deslizar na mente, andando pelas bordas e beiras até transbordar ou desaguar as dores. As poesias de Myriam, cujo tema é o universo feminino, são assim devastadoras. E falam da mulher, esse todo que não se define. A mulher, que não é uma, mas tantas. A mulher, que é feita de fragmentos pulsantes, num desencaixe que não é de fúria, mas furor de resistência e restauro para quem tem coragem de enfrentar os dias. É preciso ser rio, para dissolver toda a experiência humana. É preciso ser água, para escorrer sem reservas. É preciso chover, para que se veja o arco-íris (arremata a poeta!). E nunca esteve tão certa.