Quase vinte anos mais velho, ainda objetificava “Mucama” nas minhas observações, tão hostis quanto aquelas pessoas desacostumadas com o peso da realidade. A cada passada de olho, nela e nos meninos, vinha-me à cabeça a Maria de Castro Alves, a Lucinda de Joaquim Manoel de Macedo, a Felicidade de Machado de Assis, as mucamas de Gabriel O Pensador, de Margarida Ottoni, de Nei Lopes, Carlos Galhardo e Gilberto Freyre. Comecei a ler-me, por dentro e por fora, e a conviver com a minha vergonhosa branquitude, atrelada a um passado recente de sexismo e misoginia disfarçada de meninice. Enfim, descansei a minha insignificância no sopé da figuração, no meio de uma cidade ainda escravocrata. Ao fazê-lo, revi(li) a Mucama-mor das estrelas, de Abdias do Nascimento, e nela reencontrei Mucama do Publix, também acometida pela solidão, no meio de toda essa gente.