Segundo dados recentes da Organização Internacional do Trabalho — OIT, existem aproximadamente 170 milhões de crianças em situação de trabalho irregular no mundo. No Brasil, país que até o ano de 2013 era referência mundial no combate ao trabalho infantil, existem cerca de 3,3 milhões de crianças em situação de trabalho infantil (segundo o PNAD/2014). Pela primeira vez desde o ano de 2005, e isso é extremamente alarmante, houve aumento no número de trabalhadores infantis no Brasil: um crescimento de 4,5%. Do total dessas crianças, 70 mil têm menos de 9 anos. Esses dados não relevam apenas números ou estatísticas estanques que devem ser consideradas de forma isolada em contraposição a tantos outros indicadores sociais. Na verdade, revelam o futuro que o Brasil deseja, por mais drástica que essa afirmação possa parecer. Revelam aquilo que estamos semeando para as gerações vindouras. Revelam, sem dúvida, a persistência de uma cultura perversa arraigada no Brasil desde o seu descobrimento. Enquanto existir apenas uma criança em situação de trabalho irregular, enquanto houver tão somente uma criança fora da escola, enquanto o brasileiro acreditar que 'é melhor trabalhar do que roubar' - desconsiderando diversas outras opções para inserção decente e digna da criança na sociedade, enquanto esse cenário persistir, toda a teoria (com viés extremamente prático) constante nesta obra terá razão de existência. Raimundo Simão de Melo