Em meio a discursos, códigos de postura, representações e imagens que projetavam São Paulo como a metrópole que mais crescia no Brasil, síntese do progresso e do desenvolvimento de uma cultura urbanofabril, Carlos José construiu tabelas e quadros estatísticos a partir de relatórios governamentais, censos demográficos e estudos sobre a população de São Paulo entre os anos 1890 e 1915, trazendo à tona proporções de seus habitantes que então vivam, trabalhavam e experimentavam a pobreza, a exclusão e o reverso daquela metropolização. Pelo minucioso e criterioso cruzamento desses dados com fotografias, crônicas e reminiscências sobre os viveres na cidade símbolo do trabalho organizado, qualificou seus quadros estatísticos, reconstituindo territórios esquecidos, práticas de sobrevivência e de confrontos culturais, pluralizando as experiências que sustentavam as metáforas do progresso quando “nem tudo era italiano”, prosperidade e coesão. Construindo uma leitura sobre diferentes modos de viver e de trabalhar em São Paulo, possibilitou-nos perceber outras cidades que então debatiam-se e se transformavam mutuamente para além dos interesses na construção de uma memória ufanista. Maria Antonieta Antonacci