"No início da abertura democrática, nos anos 80, voltei ao Brasil. Encontrei um país diferente do que deixara, principalmente pela emergência de novos atores sociais, como o sindicalismo do ABC, o Partido dos Trabalhadores, as comunidades eclesiais de base etc. Meu entendimento foi que a Igreja Católica tinha tido um papel fundamental na oposição ao regime militar e na emergência dos movimentos sociais. Debrucei-me, então, sobre essa instituição no país. Nasceram dois ensaios desses estudos. No primeiro, Lula e o PT: da esperança ao feijão-com-arroz & outros escritos, descobri que o líder sindical era no imaginário um mito messiânico de caráter cristão. No segundo, O sujeito oculto do lulopetismo e dos movimentos sociais, apontei que a Teologia da Libertação, doutrina católica muito influente na América Latina, era a ideologia escondida na germinação do fenômeno político contemporâneo. O presente ensaio, O espírito do catolicismo e do Barroco na cultura brasileira, constitui uma incursão às raízes remotas do catolicismo e sua influência estruturante na fundação da cultura brasileira. Nesse percurso, cruzei com a cultura do Barroco e foi em um estalo que realizei seu profundo impacto e seus vestígios ainda presentes na mentalidade brasileira. O Estado português, desde a Revolução de Avis (1385), configurou-se como patrimonial. O Brasil herdou essa estrutura, como descreve Faoro sobre o patronato político nacional, em Os Donos do Poder. No entanto há uma lacuna em sua grande obra que é a herança do catolicismo e do Barroco na cultura brasileira. Tal é o nosso propósito. O catolicismo não é considerado em sua dimensão de fé transcendental, e sim enquanto ideologia, construída principalmente por São Paulo e por Santo Agostinho. Foi sua vertente fundamentalista, ibérica, que foi transplantada para a Colônia portuguesa.