Biografia do Língua é um livro em que a personagem central é a própria maravilha de contar histórias. Nas palavras do autor, é uma “homenagem à simples história e a todas as pequenas histórias que fazem com que a realidade não seja inimitavelmente penosa.” Aqui, o ultimo desejo de um condenado a morte e contar a vida do Língua, escravo prodigioso obrigado a uma das mais degradantes atividades que um escravo poderia então exercer: traduzir as falas dos brancos nos navios negreiros para os povos da Africa. Enquanto se desfia a fabulosa biografia, pessoas se aproximam para ouvir e acabam por escrever juntas a historia de um lugar, atravessando colônia, de independência e revolução. A ficção foi inspirada, segundo o autor cabo-verdiano Mário Lucio Sousa, em um homem real, talvez o único neste mundo que viveu o colonialismo, a escravatura, a abolição, a guerra da independência, a independência, a ocupação, o capitalismo, o imperialismo e o comunismo, sucessivamente e num mesmo lugar, entrevistado pelo etnólogo Miguel Barnet em 1963. Esse homem tinha 104 anos e dizia chamar-se Esteban Montejo.