Pensar na morte intriga, incomoda. No entanto lá está ela, constante como as chuvas que tipicamente a caracterizam. A morte é tangente a vida e não pode ser relevada, está sempre com o homem feito ameaça iminente, pode ser “tocada com os dedos”. Esta temática tão destacada na obra de Samantha, surge em diferentes desdobramentos, algumas vezes como reflexão de um eu-lírico que se concentra nas questões do findar, no ambiente inusitado do seu banho. Suas indagações são despertadas em decorrência de uma epifania surgida na contemplação da água, uma substância que propicia a existência de tantas vidas, mas que marca o morrer de tantos seres.Em outros instantes, a morte aparece exasperadamente em simbologias carregas de densidade, como quando, a autora diz ter arrancado o coração do seio de um pássaro, enxergando beleza no órgão, abruptamente capturado por suas mãos. Este espetáculo de terror acentua-se quando o eu-lírico consciente do caráter irreversível da morte, soca o chão, e percebe o sangue brotado de seus dedos machucados, revelando com isto, a tenuidade da sua própria vida. Como um tombo a morte chega, às vezes personificada no nocaute do final de um dia que nasceu e se desdobrou em desventuras, outras vezes ela vem abrupta como um “tombo inelutável”, no entanto, ela é uma aliada da vida, “um susto que vira sonho”, um findar inevitável que carrega a beleza dos grandes mistérios.