Em As horas tristes, Faber Num apresenta-nos um eu lírico inconformado com o desfecho de uma linda história de amor, que chora convulsamente e espanta-se com a sua própria solidão. Em uma dança onírica, coalhada de reminiscências e ruínas, o fôlego acaba por nos faltar enquanto oscilamos entre melancolia e esperança. A presença do ser amado é constante, assim como também é constante o desejo de reparação. A tristeza descomunal que acomete o eu lírico faz com que ele se encerre em uma redoma onde tece planos para o porvir. E é neste porvir que ele será plenamente feliz, de acordo com suas expectativas, pois sua alma encontra-se impregnada por um amor que vence tempo e distância. Por sentir- se fragmentado, o poeta ensaia um salto quântico há muito adiado, contudo, este é malfadado como um voo de Ícaro e suas asas derretem-se quando incandescente. Arremessado num abismo de dor e culpa, ele não vê alternativa além de recompor-se a fim de reiniciar um novo ciclo. A obra é marcada pela despedida, pela ruptura com o ser que lhe preenchera o mundo de significado. Apesar dele tratar do óbito do romance e cogitar um futuro repleto de metas, em seu imo, ele sabe que é incapaz de conceber uma realidade outra em que não esteja enamorado. O poeta almeja o sobressalto e a segurança promovidos por tal sentimento. Evoluir em solitude nada representa se não pode compartilhar suas conquistas com o outro. Em tempos de solidão e conexão excessiva – o que por si só é uma enorme contradição – Faber Num ressuscita o amor romântico em seu paroxismo.