Organizado pelo doutor em filosofia Antônio David, este livro reúne artigos e resenhas de difícil acesso escritos por Florestan Fernandes entre 1943 e 1991. Incluindo dois manuscritos inéditos, os textos desta coletânea têm como fio condutor a preocupação do autor de oferecer um quadro interpretativo do Brasil. Do sociólogo ao socialista, seria fácil ver uma ruptura no pensamento de Florestan Fernandes. Mas o que aqui se comprova é que as continuidades são também muito fortes. Na época em que Florestan liderou a institucionalização da Sociologia no Brasil, suas escolhas repousaram sobre os deserdados da terra, os indígenas, os negros, as crianças e a cultura popular. O Brasil de Florestan revela ainda uma tensão entre ciência e engajamento político. Os textos aqui tão bem selecionados transitam da crítica dos intérpretes do Brasil à realidade crua das malocas, aldeias, vilas e favelas. Não lhe faltam a revolta e a identificação com o sofrimento humano. Como certa vez disse Antonio Candido, o marxismo foi como um rio subterrâneo na obra de Florestan; sempre esteve lá, antes de aflorar e nos revelar o publicista revolucionário dos capítulos finais deste livro. Lincoln Secco, professor de História Contemporânea da USP