A quem interessa a educação? Como a educação é tematizada pelos diferentes grupos sociais? Que determinações históricas estão na base das inflexões que a educação sofre no processo de organização da sociedade republicana? Esses questionamentos levam este estudo a percorrer, novamente, o período conhecido como Primeira República. Por meio dele, pode-se inferir que o tema educacional está articulado a interesses contraditórios e muitas vezes excludentes. No processo de constituição desse período histórico, a tematização da educação como "salvadora" da "população inculta e despreparada" para a república recém-implantada vai, gradativamente, cedendo lugar para a tematização da educação como "disciplinadora do trabalhador", uma vez que a distribuição dos indivíduos organizava-se de acordo com a sociabilidade capitalista. Nesse contexto, observam-se algumas inflexões: o deslocamento de uma "cidadania abstrata" para uma "cidadania regulada pelo lugar do indivíduo na estratificação ocupacional do trabalho"; do debate político para o plano pedagógico; da educação pública para a privada e o reforço ao discurso ideológico da educação como equalizadora de oportunidades que, em última instância, tem como propósito a produção de uma "desigualdade justa". Em tempos de culto ao novo e a todos os "neos" vale a pena dar um pouco de atenção aos determinantes históricos a fim de dimensionar, corretamente, o presente compreendido como "tensão dialética entre o passado e o futuro"(Hobsbawm).