Inicia-se a balbúrdia logo no primeiro momento em que o senhor Alfabeto decide reunir todas as inflamadas letras não para promover um novo acordo ortográfico, mas sim uma festa, uma farra em que todas as suas protegidas estarão liberadas para falar tudo aquilo que bem entenderem. Assim, de A a Z, cada uma das letras enuncia um discurso de louvor a si própria e às belas palavras que compõem. Contudo, invertendo o tom, por vezes irrompem lamentosas queixas: o A confessa que sua proximidade com o M e o N faz com que se sinta estranho; o C evoca o clássico conflito com o S e o SS, sem falar na intromissão da cedilha; o H, melancólico, lamenta sua própria nulidade...A, B, C, D, E. Mas, será que alguém imagina que esses sinaizinhos - sim, eles mesmos! - nem sempre concordam com o jeito como são usados? Pois foi exatamente isso que o senhor Alfabeto descobriu no dia em que teve a incrível ideia de convidar todos os sons do mundo para uma festa memorável, rompendo as regras de próprias casa, sempre tão organizada, para homenagear suas vinte e seis hóspedes, as queridas letras. Quando anunciou que o som estava liberado, muitos sinais até se contorceram de espanto e colaram nos pontos de exclamação que começaram a chegar. Pudera! De tão acostumadas a somente obedecer aos chamados da Língua Portuguesa, as letras levaram um susto e tanto quando entenderam que, pela primeira vez, poderiam falar o que bem entendessem! E foi assim que começou todo esse zum-zum-zum.