Os três ensaios de Georg Simmel que aqui se publicam dedicam-se a outras tantas cidades históricas italianas - Roma, Florença e Veneza - e constituem preciosas reflexões filosóficas e culturais sobre a arte, a estética e a sua relação com a cidade. Escritos no dealbar do século XX, os textos de Simmel trazem à nossa reflexão a cidade como objecto estético. A cidade como obra de arte, tema tão abundantemente debatido ao tempo em que Simmel produziu estes escritos, tem aqui uma complexa reflexão subsidiária da noção de "panteísmo estético". Em estreita interrelação com os juízos sobre a história, a cultura e a sociedade, a análise simmeliana da estética da cidade resulta num eloquente discurso acerca das tensões entre espírito e natureza e da sua eventual reharmonização. Roma - a cidade eterna - é a alegoria por excelência da possibilidade de encontrar o sentido essencial da vida. Nem a nostálgica Florença - cujo "passado grandioso... tem tristemente pouco que ver com a vida... do presente" - , nem a fantasiosa Veneza - em cujas ruas "as pessoas andam como se estivessem a atravessar um palco" - podem pretender tão nobre desígnio. Só em Roma, como afirma Simmel, "é que as distâncias entre as épocas, os estilos, as personalidades, os conteúdos vitais... são tão amplas como em nenhum outro sítio no mundo e, no entanto, estão entretecidas numa unidade, harmonia e afinidade..." Transversal às áreas de arquitectura, filosofia, história da arte e sociologia urbana, os ensaios de Simmel aqui contidos constituem um testemunho ímpar sobre a construção da modernidade, oferecido por um dos mais destacados pensadores dessa transição societal. Com organização e introdução do Doutor Carlos Fortuna (Faculdade de Economia da UC), os textos foram traduzidos do alemão pelo Doutor António Sousa Ribeiro (Faculdade de Letras da UC) e reproduzidos neste formato com a autorização da Revista Crítica de Ciências Sociais, onde foram publicados originalmente.